Até uma gota d'água consegue se diferenciar das outras em meio a uma imensidão sem fim de gotas iguais...Mas por que nós, seres humanos, instituídos por uma razão e uma pretensa capacidade de pensar, insistimos tanto em sermos iguais uns aos outros?
Vivo a diferença a cada suspiro meu, a cada gota de suor, a cada raio de sol, a cada novo luar, a cada sinapse neurótica de meu cérebro, a cada instante, a cada momento, a cada sempre...
Viva a diferença, não ao estereótipo!
"Ser poeta não é ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho."
Fernando Pessoa
Vivo a diferença a cada suspiro meu, a cada gota de suor, a cada raio de sol, a cada novo luar, a cada sinapse neurótica de meu cérebro, a cada instante, a cada momento, a cada sempre...
Viva a diferença, não ao estereótipo!
"Ser poeta não é ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho."
Fernando Pessoa
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
A Lagoa da Perdição
Esse mês, devido às "bodas de prata" do município de Cruz, em janeiro próximo, presto aqui uma homenagem à referida cidade.
Conta a tradição oral que, em terras piauienses, um anônimo retirante padecia de fome, sede e cansaço. Relegado aos desígnios do calor em terras deveras quentes, tal sujeito pediu abrigo em uma fazenda, que segundo consta a boca dos mais antigos, seria a do Coronel Teixeira Pinto, que teria ali se instalado fugindo de Portugal, aproximadamente no ano de 1687, devido a guerras vicinais em terras ibéricas.
Sendo compadecido com o sofrimento do retirante, logo ofereceu abrigo, comida e água para aquele corpo magérrimo. Mas, não satisfeito com a água, a comida e o abrigo que lhe fora ofertado, o incômodo hóspede começou a flertar com a filha do fazendeiro. Em não muito tempo, esta já estava entregue aos braços ardis e viris do retirante, apesar de as regras sociais da época ver em tal comportamento algo inaceitável. Assim, os dois amantes tiveram pouquíssimos - todavia únicos – momentos de amor lascinante e assaz.
Ao ser descoberto, o viajante a fim de salvar a própria vida abandonou um pedaço dela: fugiu dali, deixando sua amada em solitários lençóis. Poderíamos nos perguntar de que vale a vida sem o amor da mulher – ou do homem – amada (o). Mas não é o propósito de tal relato.
Tal como um Ulisses às avessas, o tal homem fugiu dali, desmistificando seu idílio e transformando-o numa bruta realidade a fim de sobreviver. A pobre moça desvirginada de nada se aproximou da Penélope do mito grego. Assumiu, pois, uma caracterísitca psicótica: refém imaginária do viajante, seguiu-o por terras e florestas ainda virgens, desvirginando-as junto com seu amado.
Ainda segundo as falas senis, o velho fazendeiro jurou morte aquele corpo que lhe traíra e danificara o corpo de sua filha. Aquele Dom Juan sertanejo iria pagar com seu próprio sangue o sangue que fizera brotar das entranhas genitais de sua filha. Pois, como se sabe, “honra se paga com sangue!”
O que se segue, é uma saga de um pai desesperado pela falta de hímen em sua filha e, ao que tudo indica, guiado pela ira e não por sua razão, desbravou serras, matas fechadas, carnaubais, coqueirais. Passou por entre bananeirais, cajueirais, viu pores-do-sol invejáveis, bebeu água dos rios – por vezes salobra – , viu o mar de perto, sentiu o calor no sangue e o calor do Sol do Nordeste. As paisagens as quais passou causam inveja ao mais insensível dos mortais.
Incontáveis foram as mutucas que lhe aperrearam em seu contra-idílio, inúmeras as muriçocas que lhe pertubaram o sono cada vez mais desconfortável. Carne, só comia quando um preá vacilante passava por perto de seu alazão, pois, cego pelo ódio de amor à filha, só tinha os olhos pregados ao horizonte e ouvidos atentos a qualquer vestígio de seu infame hóspede. Alimentava-se do desejo de vingança, tão quente quanto o sangue que fluía por entre suas veias.
Enfim, em nome da honra, passou fome, sede e privações outras em busca de recuperar o mal que fizeram à sua filha. Tudo em riba do lombo (cada vez mais duro) de um cavalo.
A saga só tem fim quando, nos limites do litoral-norte cearense, o tal desvirginador foi, enfim – em nome da moral e dos bons costumes – , assassinado às margens de uma lagoa. O fazendeiro, ainda instituído por uma moral cristã e, ao que parece, ensandecido com sua própria consciência ao mesmo tempo que receioso dos males celestes, fincou, às beiras da lagoa onde ele assassinara seu quase genro, uma tosca cruz confeccionada ali (ainda por mãos ensaguentadas de assassínio) por dois gravetos tortos e insinuosos que, ironia das ironias, lembravam, por seu formato cilíndrico, um pênis.
Logo um pênis, alvo de toda aquela fúria. Sede de toda a vingança! Mola propulsora de toda aquela viagem. Mas não havia tempo para pensar nisso, o importante era ir embora dali o quanto antes e dar àquele indecente corpo um enterro, por assim dizer, cristão.
* * * * *
Em tempo: Perto de tal cruz, às margens cúmplices da lagoa, deu-se origem, em algumas dezenas de anos, um povoado tão pequeno quanto escondido. Não à toa, o montante de água ficou conhecido por Lagoa do Escondido e, o povoado que dele brotou, veio a chamar-se, devido ao heróico ato do pai em busca do tesouro perdido de sua filha, Cruz.
31.Ago.2009
Esse cheiro
E esse cheiro empestado de nós?
E esse cheiro empregnado de nós?
(nós que nos une fortemente).
E essa saudade que não passa?
E esse cheiro impregnando meus dias,
mexendo com minhas vísceras,
fazendo-me suar
(ou seria chorar pela pele?)
arranhando meus sentimentos,
lembrando-te-me constantemente,
mostrando-me a felicidade...
O que eu faço com esse cheiro?
Meu nariz é meu principal órgão
tudo que faço depende dele
através dele procuro teus vestígios,
sinto teu cheiro por toda parte...
isso me consome,
me tira o sono,
mas me dá a certeza da felicidade!
19.mar.2008
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Somos americanos e queremos ser americanos
Nesses tempos de capitalismo aflorado, que tanto mexe com nossas vísceras, que a nós faz parecer de igual valia tanto o CO2 expelido por uma indústria quanto o O2 inalado por uma pessoa humana, 03 termos se fazem tão atualizados quanto necessários: globalização, regionalismo e localismo.
Não quero aqui discutir conceitualmente cada um desses termos ou mesmo dar-lhes novas roupagens. Quero, de fato, discutir o que nos faz (ou o que fazemos) para termos, solidamente, uma identidade americana.
(Sim, pois somos tão americanos quanto qualquer ser que nasça do lado de cá do Atlântico, tendo por limite oeste as águas salobras do Pacífico!).
Sobretudo, o que nós, latino americanos (podemos encarar até mesmo esse termo como um sutil preconceito, já que nos impede de sermos, pelos menos semanticamente, americanos) fazemos para nos identificar sob a égide destes dois termos justapostos?
Em uma palavra, o que quero discutir é como um povo que tão mal conhece sua história e seu próprio povo reivindica para si o direito de agrupar-se sob a homogeneidade do termo latino-americano. O que nós, cearenses, nordestinos, brasileiros, sulamericanos, enfim, conhecemos do nosso continente? Pouco ou quase nada. Tal conhecimento seria ainda mais minimizado se o compararmos com o que sabemos das culturas asiáticas e européias, quiçá as africanas.
Senão, vejamos.
Muitos de nós talvez gaguejaríamos se nos fosse perguntado, por exemplo, a capital da Bolívia ou do Peru. Porém, se a pergunta fosse a capital da Alemanha ou da China responderíamos, talvez, com voz de prepotência.
Muitos de nós sabemos de cór o nome dos últimos 03 presidentes dos EUA. Mas quem de nós sabe o nome do atual chefe de Estado do Uruguai ou do México?
Tendemos a tachar como absurdo o nazismo de Hitler, o fascismo de Mussolini, a imprudência ianque em Nagazaki e Hiroshima ou os atentados do Sr. Bush. Todavia, relegamos às entranhas do olvido que nós, americanos, parimos pínochets, médicis, perons e suas barbáries ditatoriais.
Quantos de nós planejamos fazer pós-graduação na Universidade de Caracas ou na Universidade do Chile? Em vez disso, sonhamos com Harvard, Paris XIII ou mesmo Universidade de Dubai.
Por falar em Dubai, nossos ídolos políticos, exemplos de vida, heróis de resistência são Gandhi, Jesus Cristo, Lênin, em vez de Guevara, Lula da Silva, Simon Bolívar, Virgulino...
E nossa história nativa, tão massacrada por nós mesmos hoje quanto pelos primeiros ibéricos séculos atrás...Quem de nós aqui não conhece o mito de Narciso ou de Édipo na Grécia Antiga? Mas quantos de nós, americanos, conhecemos, pelo menos superficialmente, os mitos incas, maias ou guaranis?
E nossa mídia, tão eurocêntrica quanto qualquer uma européia? Quem de nós lembra de ter visto na televisão brasileira imagens de Quito, Lima ou Assunção (salvo nas transmissões de futebol)? Mas quem não conhece, por essa mesma mídia, a Torre Eifel, Nova York ou mesmo Tóquio?
Essa é a mesma mídia que prefere propagar a vitória de Barack Obama no centro do mundo, ops...EUA do que o levante de esquerda que a América do Sul presencia com Lago no Paraguai, Oribe na Colômbia, Kitchener na Argentina, Lula no Brasil, Chavez na Venezuela, Moralez na Bolívia...
Bem pudera, a essa mídia que mais interessa uma corrida de pelados na Bélgica do que, talvez, o nascimento de trigêmeos na Nicarágua...que prefere noticiar as mazelas africanas do que o estado praticamente inabitável do Haiti...que prefere explicar o que é a AL QAEDA do que as FARC's...
Ainda sobre a mídia, quantos sites que veiculam notícias genuinamente americanas conhecemos? E se conhecemos algum, quantos de nós os acessam?
A literatura também não passa incólume nesta avalanche eurocêntrica camuflada de globalização. Assistimos abismados (e calados!) o ocultismo que relegamos aos versos de Augusto dos Anjos, Gabriela Mistral ou Pablo Neruda. Em contrapartida, sabemos de cór o "ser ou não ser" de Shakespeare ou os versos de Camões.
Gabriel Garcia Márquez ou Lima Barreto são praticamente palavrões aos nossos ouvidos europeizados ao passo que desdenhamos daqueles que não conhecem os contos de Agatha Christie ou E. Alan Poe.
E a Filosofia? Quantos bons filósofos americanos devem ter se perdido pelos labirintos tortuosos e indecifráveis da América Latina? À guisa de exemplificação, cito o cearense Farias Brito que, mesmo em ambientes acadêmicos, não passa de um ilustre anônimo.
Parece haver uma afirmação que tem o poder de um imperativo categórico: todos os bons filósofos são europeus! Nietzsche. Kant. Foucault. Descartes. Maquiavel. Seria nosso continente americano tão estéril a ponto de não parir nenhum filósofo de renome? Ou isso seria mais um legado eurocêntrico?
Mesmo nos campos teóricos da Psicologia prefere-se estudar o bielorrusso Vigotski, o suíço Piaget ou o austríaco Freud do que o venezuelano A. Merani, a argentina E. Ferrero ou o brasileiríssimo Paulo Freire (isso sem citar os que foram desgraçados pelo silêncio do ostracismo). E ainda se fala em uma Psicologia latino-americana...
Será que Freud, Skinner ou Rogers (nomes dos mais aceitos na Psicologia no Brasil) descobriram os "universais antropológicos" ou os estudamos graças às nossas subjetividades marcadamente oprimidas e destituídas de autonomia?
Depois de tudo isso, indago: o que nos faz querer abrigarmo-nos sob a tênue camada do latino-americanismo? Seria apenas nosso passado envolto em opressões e barbáries ibéricas? Ou podemos, desse "pretérito obscuro" – apesar de lânguido e fértil – tirarmos bases sólidas de uma identidade transnacional?
Talvez a pergunta que deva ficar, no lugar de o quê nos faz americanos, é se, necessariamente, queremos ser americanos.
Fev. 2009
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
O Lugar de onde venho
(Aos Tremembés de Almofala)
Venho de um lugar
onde a música e a poesia
se (me) fazem gente;
onde o mar, o sol e o torém
são seus caciques;
onde a palavra de ordem é autonomia
e o amor seu maior sentimento,
sempre rodeado por auréolas de felicidade e paz...
No lugar de onde venho
se envelhece por natureza
e não por ação da tecnocracia;
onde a loucura e o diferente
se mostram e se cristalizam
exatamente por irem à revelia
das massas capitalizadas.
Venho de um lugar
onde o povo é unido e organizado
não por natureza,
mas por vontade própria!
onde a natureza se fez bonita
pra fazer jus ao povo que a habita...
Falo de um povo que não quer ser mais
falo de um povo
que quer apenas viver à sua maneira,
à revelia dos que o cercam.
Falo de um lugar
onde o torém,
o mar
e a terra firme embaixo dos pés
tanto encantam quanto enobrecem.
Este povo que fala dos "encantado"
não sabem que, de verdade,
encantadores são eles próprios
e nós privilegiados em poder conhecê-los...
Mar. Torém. Sol. Terra firme.
Em mim
o sentimento de saudades
se faz tão necessário
quanto meu sangue fluir
por entre minhas veias...
Mar.
Torém.
Sol.
Terra firme:
Tremembés.
domingo, 1 de novembro de 2009
Aos Calados
Sempre desconfiei de pessoas
que falam muito.
Pra mim,
o vale verde e doce
das guabirabas mais arroxeadas
e dos muricis mais amarelentos
pertencem às pessoas caladas.
A melhor parte do mundo lhes cabe!
São os calado a quem,
com sua doce complacência consigo mesmo,
busco e a quem procuro com ardor.
Pois que, no amor são os calados
– doce insanidade do pensar –
que me interessam.
Talvez sua sonsitude e seu cinismo
mas são os calados que busco
pois que, no amor,
mostram-se tão desinibidos e autênticos
quanto jamais reparei nos falantes.
Aos calados:
É teu cinismo que quero pra mim!
Teu jeito doce e calado
de me fazer sofrer.
Entretanto, seria demasiado ingênuo
acreditar que sou triste porque falante.
Porém, são os calados,
doces e insones
a quem quero!
16.maio.2009
que falam muito.
Pra mim,
o vale verde e doce
das guabirabas mais arroxeadas
e dos muricis mais amarelentos
pertencem às pessoas caladas.
A melhor parte do mundo lhes cabe!
São os calado a quem,
com sua doce complacência consigo mesmo,
busco e a quem procuro com ardor.
Pois que, no amor são os calados
– doce insanidade do pensar –
que me interessam.
Talvez sua sonsitude e seu cinismo
mas são os calados que busco
pois que, no amor,
mostram-se tão desinibidos e autênticos
quanto jamais reparei nos falantes.
Aos calados:
É teu cinismo que quero pra mim!
Teu jeito doce e calado
de me fazer sofrer.
Entretanto, seria demasiado ingênuo
acreditar que sou triste porque falante.
Porém, são os calados,
doces e insones
a quem quero!
16.maio.2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
No Velório
Ele em sua época áurea tinha sido um influente político da ainda jovem República Brasileira, chegando a ocupar até um cargo no Ministério. Depois experimentou uma saliente decadência. E como todo começo tem seu fim, foi acometido de um infarto no miocárdio que lhe custou a vida.
O velório foi bastante disputado entre a vizinhança do outrora glamoroso bairro. Mulheres lamuriavam e choravam terem perdido o pai de seus filhos (sim, eram muitos filhos espalhados no bairro, apesar de a maioria nem saber que seu pai biológico era ele).
Mas aquele mesmo gosto por sexo que o incipiente cadáver tivera em vida, uma de suas filhas herdara. Ela tinha apenas 21 anos, mas já era casada e mãe de dois filhos. Seu marido estava por chegar e, enquanto isso não acontecia, ela, em vez de carpir-se da morte de seu genitor, paquerava o agente funerário em pleno velório do pai!
O rapaz encontrava-se bastante constrangido pela situação. Mas ela estava decidida a fitá-lo e fazia isso sem a menor cerimônia. O morto parecia remexer-se dentro do caixão (ele também compelido com a circunstância dada). Porém lá estava ela, impassível ao próprio choro de sua mãe, sentada ali, ao seu lado, gemendo baixinho. Continuava a fitar o indeciso agente funerário.
Como ele continuava em seu mar de incertezas e constrangimentos, sem dar uma certeza exata de suas intenções, ela resolveu agir por si só, e mostrá-lo todo seu poder persuasivo. Dona de carnes salientes e peitos fartos e resistentes, de uma boca que era a própria lascívia transformada em lábios, sabia que poucos homens lhe resistiriam. Em épocas de colegial, chegara a ganhar um concurso de miss organizado no bairro.
Em poucos instantes, no andar de cima, um encabulado agente funerário encontrava-se só de cuecas em cima da cama de casal que tanto dera descanso, conforto e prazer ao emérito defunto. Ela, com um sorriso entre sádico e ninfomaníaco nos dentes começava a desabotoar seu espartilho vermelho. Ele, vermelho (mais por reflexo do espartilho do que por vergonha), estava completamente alheio a si. Pensava mais no velório que acontecia lá embaixo do que na excitante situação em que se encontrava.
Gemidos, gritos e sussurros se confundem no catre. Esperma, suor e lágrimas mostram um resultado de um prazer negro. Para ele, a situação era mais fúnebre que prazerosa. Já ela se sentia no próprio Kama Sutra.
Gemidos de uma das viúvas (por acaso mãe dela) lá embaixo. Aquele cheiro de chá de capim-santo. Homens conversando baixinho assuntos alheios ao velório. Outros, que um dia já foram encornados pelo próprio defunto, faziam-lhe extremos elogios e eminências.
Chegam telegramas de várias partes do estado, lamentando o deprimente acontecimento. Os filhos (muitos!) brigam para ver quem os lia primeiro. Chegam também flores, enviadas por uma antiga e romântica amante do finado. Um velho reclama que o chá está sem açúcar.
No andar de cima, os dois amantes suavam entre os lençóis rasgados e fétidos do finado. Suor e agora lágrimas (dele e não dela) se misturavam sobre os molambos esburacados. Lá embaixo, gritos selvagens de uma senhora que acabara de chegar e que ninguém conhecia. Muitos murmuravam que o morto era muito querido.
Sua filha continuava impassível à situação e já estava novamente em cima do infeliz agente funerário que só queria ir embora. Quem chega ao velório agora é o abatido marido dela. O pobre agente funerário parece sentir isso, pois agora dá um gemido mais de medo que propriamente de prazer.
10.jun.2007
O velório foi bastante disputado entre a vizinhança do outrora glamoroso bairro. Mulheres lamuriavam e choravam terem perdido o pai de seus filhos (sim, eram muitos filhos espalhados no bairro, apesar de a maioria nem saber que seu pai biológico era ele).
Mas aquele mesmo gosto por sexo que o incipiente cadáver tivera em vida, uma de suas filhas herdara. Ela tinha apenas 21 anos, mas já era casada e mãe de dois filhos. Seu marido estava por chegar e, enquanto isso não acontecia, ela, em vez de carpir-se da morte de seu genitor, paquerava o agente funerário em pleno velório do pai!
O rapaz encontrava-se bastante constrangido pela situação. Mas ela estava decidida a fitá-lo e fazia isso sem a menor cerimônia. O morto parecia remexer-se dentro do caixão (ele também compelido com a circunstância dada). Porém lá estava ela, impassível ao próprio choro de sua mãe, sentada ali, ao seu lado, gemendo baixinho. Continuava a fitar o indeciso agente funerário.
Como ele continuava em seu mar de incertezas e constrangimentos, sem dar uma certeza exata de suas intenções, ela resolveu agir por si só, e mostrá-lo todo seu poder persuasivo. Dona de carnes salientes e peitos fartos e resistentes, de uma boca que era a própria lascívia transformada em lábios, sabia que poucos homens lhe resistiriam. Em épocas de colegial, chegara a ganhar um concurso de miss organizado no bairro.
Em poucos instantes, no andar de cima, um encabulado agente funerário encontrava-se só de cuecas em cima da cama de casal que tanto dera descanso, conforto e prazer ao emérito defunto. Ela, com um sorriso entre sádico e ninfomaníaco nos dentes começava a desabotoar seu espartilho vermelho. Ele, vermelho (mais por reflexo do espartilho do que por vergonha), estava completamente alheio a si. Pensava mais no velório que acontecia lá embaixo do que na excitante situação em que se encontrava.
Gemidos, gritos e sussurros se confundem no catre. Esperma, suor e lágrimas mostram um resultado de um prazer negro. Para ele, a situação era mais fúnebre que prazerosa. Já ela se sentia no próprio Kama Sutra.
Gemidos de uma das viúvas (por acaso mãe dela) lá embaixo. Aquele cheiro de chá de capim-santo. Homens conversando baixinho assuntos alheios ao velório. Outros, que um dia já foram encornados pelo próprio defunto, faziam-lhe extremos elogios e eminências.
Chegam telegramas de várias partes do estado, lamentando o deprimente acontecimento. Os filhos (muitos!) brigam para ver quem os lia primeiro. Chegam também flores, enviadas por uma antiga e romântica amante do finado. Um velho reclama que o chá está sem açúcar.
No andar de cima, os dois amantes suavam entre os lençóis rasgados e fétidos do finado. Suor e agora lágrimas (dele e não dela) se misturavam sobre os molambos esburacados. Lá embaixo, gritos selvagens de uma senhora que acabara de chegar e que ninguém conhecia. Muitos murmuravam que o morto era muito querido.
Sua filha continuava impassível à situação e já estava novamente em cima do infeliz agente funerário que só queria ir embora. Quem chega ao velório agora é o abatido marido dela. O pobre agente funerário parece sentir isso, pois agora dá um gemido mais de medo que propriamente de prazer.
10.jun.2007
Mesmo sendo, não foi
Saudades.
Saudades do nosso amor.
Saudades de tudo que fizemos
e também do que não fizemos.
Saudades do que é só nosso,
do nosso amor.
Saudades daquilo que conquistamos
dos sorrisos bobos, das mãos atrevidas
dos nossos silêncios e olhares
saudades de nós!
Das nossas noites enluaradas
das noites frias
esquentadas pelo nosso prazer.
Saudades de mim e de você.
Do nosso nós!
Saudades dos nós
que nos uniram e nos atraíram
saudades do que fizemos
que ninguém mais fez
posto que jamais algum mortal
teve coragem para ser
tão intensamente feliz.
Enfim, saudades do nosso amor
igual somente a ele mesmo!
14.Set. 2009
Saudades do nosso amor.
Saudades de tudo que fizemos
e também do que não fizemos.
Saudades do que é só nosso,
do nosso amor.
Saudades daquilo que conquistamos
dos sorrisos bobos, das mãos atrevidas
dos nossos silêncios e olhares
saudades de nós!
Das nossas noites enluaradas
das noites frias
esquentadas pelo nosso prazer.
Saudades de mim e de você.
Do nosso nós!
Saudades dos nós
que nos uniram e nos atraíram
saudades do que fizemos
que ninguém mais fez
posto que jamais algum mortal
teve coragem para ser
tão intensamente feliz.
Enfim, saudades do nosso amor
igual somente a ele mesmo!
14.Set. 2009
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Cúmplices do Prazer
Cúmplices do prazer,
somos, um para o outro,
carne crua e nua
desejo aflorado e saciado.
Saciados um do outro
por tempo íntimo e ínfimo
Cúmplices do prazer,
servos do desejo,
o cio nos vence novamente
e nos mostra (a)o amor.
19.maio.2009
somos, um para o outro,
carne crua e nua
desejo aflorado e saciado.
Saciados um do outro
por tempo íntimo e ínfimo
Cúmplices do prazer,
servos do desejo,
o cio nos vence novamente
e nos mostra (a)o amor.
19.maio.2009
sábado, 5 de setembro de 2009
Um Bairro Chamado Brasil
Quero aqui falar de alguns personagens que habitam e constituem meu bairro. Moro em um local periférico, um pouco afastado do centro da cidade, o que não nos impede da convivência charmosa e harmoniosa de pessoas da mais alta singularidade. Destacarei alguns desses seres ímpares.
O primeiro deles, Seu Saúde, é um simpático senhor que durante toda sua vida esforçou-se ao máximo para que seus feitos chegassem ao conhecimento e ao usufruto de todos. Gosta ele de ser chamado por seu pomposo nome acrescido de seu sobrenome: Seu Saúde Pública.
Esqueci de mencionar o mais importante: Seu Saúde é artista. Durante todo seu pernoitar neste mundo tentou, quase sempre em vão, que suas partituras, suas letras, seus arranjos e suas melodias fossem do conhecimento do grande público. Hoje, com sua saúde já debilitada, torce para que seus versos sejam mais lidos, mais compreendidos e mais executados também.
Apesar de ter sido assessorado por grandes intelectuais, ilustres nomes do pensar, Seu Saúde nunca passou de um augusto desconhecido das grandes massas. Aliás, seu nome até ecoa dos barracos favelizados às mansões imperiais. Porém é apenas seu nome, e não a pessoa Saúde Pública e suas benesses artístico-culturais que faz voz nas pessoas.
Não são suas melodias faustosas e seus promissores efeitos que o público conhece, é apenas seu nome, como uma promessa de uma utopia ainda distante.
Não obstante sua simpatia e mesmo sua tímida aproximação com seu público em potencial, Seu Saúde não conseguiu conquistar o grande amor da sua vida: uma senhora às vezes rabugenta demais, às vezes sensível demais. Mas o que mais a identifica é seu estranho e desdenhoso hábito de fazer promessas as quais não consegue cumprir. Atende pelo promíscuo nome de Constituição Cidadã.
Ao falarmos da vida desta quase caducante senhora que por toda sua vida passou por incontáveis quedas e posteriores modificações – algumas radicais outras nem tanto – até apodar-se de Constituição Cidadã, logo lembramos os políticos de nosso país: tudo nos prometem, tudo nos garantem e nunca nos dizem um "não". Apesar desta comparação, sei que D. Constituição vive repetindo pelo bairro que não gosta de política.
Porém um algo a mais tem em seus dizeres que a difere de um mero discurso planfetário. Sua voz serena mas firme parece-nos ter a força de leis escritas. Se é ela quem fala logo nos tranqüilizamos. Um dos argumentos mais convincentes do bairro, quase um chavão, usado nas mesas de bar ou mesmo nas brigas entre vizinhos por um pedaço a mais de varal é: "Foi D. Constituição que garantiu".
Agora vou apresentar outro cidadão que também é um ícone do bairro onde moro. É daqueles sujeitos que se conhece e nunca se esquece. Ou se gosta muito dele ou o deixamos a falar a sós, com suas promessas mirabolantes e pouco modestas. Ele é um dos cidadãos mais fanfarrões que se tem notícia. Com um discurso recheado de palavras bonitas - a maioria retóricas e prolixas – apresenta-se aos outros quase como uma panacéia dos problemas alheios. Diz ser capaz de resolver todos os dilemas dos outros. Mais: se diz o caminho para a autonomia dos processos subjetivos. Seu nome, Educação Brasileira.
Seu Educação muitas vezes é tomado no bairro como uma pessoa arrogante. Sobretudo porque, ao aqui chegar, também prometera, assim como D. Constituição, coisas que não pôde cumprir. A diferença é que fizera juras de mudanças a longo prazo, pediu tempo, o que lhe foi dado, mas não deu o devido retorno à comunidade, já que prometeu liberdade e auto-suficiência ao fim de um processo. Tal processo, como já foi dito, mostrou-se falho.
Já falei de sua coincidência com D. Constituição. Agora vou lhes dizer de sua semelhança com Seu Saúde. Os dois amam e nunca conquistaram a mesma mulher. Isso mesmo, D. Constituição é também dona do coração de Seu Educação.
Seria uma grande falha minha se não vos dissesse que esta senhora que a tudo promete é casada com Seu Brasil Lesado Pelos Outros.
Dado a imponência e a variedade de seus sobrenomes, Seu Brasil sabe que é a figura de maior poder aquisitivo do bairro. O que não sabe é que sua fortuna poderia multiplicar-se por infinitas vezes se se desse conta de sua riqueza em potencial.
Seu Brasil teve muitos filhos em sua espessa, lânguida e, por assim dizer, fértil vida. Em sua imensa maioria canalhas, calhordas e cafajestes. Isso só pra não sair da letra 'c'.
Cabe dizer que, apesar de seu casamento longínquo e duradouro com D. Constituição, muitos de seus filhos são frutos de outras "transações" maliciosas, resultados de sua solteirice. Lascívias voláteis. O que não posso negar é sua rara habilidade em criar nomes criativos para seus muitos filhos. Alguns nomes: "Dívida Externa", "Subdesenvolvimento ", "Censura", "Povo Sem Educação", "Povo Sem Saúde", "País do Futebol", "País do Futuro", "Seu Zé", "D. Maria"...
Ao longo de sua vida Seu Brasil teve um sem número de empregados que lhe passaram a perna. Apesar de seu filho "Jeitinho Brasileiro" tentar ajudar-lhe, o marido de D. Constituição sempre teve suas receitas – como diria um filho do casal, Chico Buarque de Hollanda –, "subtraídas em tenebrosas transações".
Em sua vida já vendeu de tudo para sobreviver: madeira, açúcar, escravos, ouro, café. Hoje se vende em cada esquina, a cada passo inseguro e vacilante. Vende-se a preços tabelados. Porém orgulha-se de vender a si mesmo e aos filhos ao sabor do preço do petróleo. Além do mais, vende-se em dólar. Orgulha-se também de ter amigos no exterior que lhe emprestam, sempre que precisa, dinheiro a juros irreais e desumanos.
D. Constituição tem-lhe um grande carinho e, apesar das tantas quebras e rinhas, acha-se muito feliz em seu matrimônio. O que mais admira em seu marido são os filhos dele e a capacidade que estes têm, contra todas as expectativas, de amá-lo. Porém, preferiria que a riqueza de Seu Brasil fosse melhor repartida entre sua família (a sua e a de seu esposo).
Seu enlace amoroso deu-se nos primeiros anos da década de 1820. Em 1824 deu-se o casório, com toda pompa e circunstância, tal como num matrimônio imperial. Apesar do posterior rompimento dos dois com a Igreja Católica foi esta quem abençoou, em nome de um Deus onipotente e onipresente, a união do nascente casal.
Seu Brasil nunca traiu o matrimônio, apesar de quase nunca conseguir cumprir o que prometera a D. Constituição. Esta, se não teve amantes fixos, teve pelo menos duas puladas de cerca.
A primeira delas foi com Seu Educação, na qual firmaram um tênue relacionamento que prometia ser benéfico para todo o bairro. Como se sabe, tal relacionamento não deixou outro fruto a não ser a desmoralização e o descrédito de Seu Brasil perante sua comunidade.
A segunda vez foi com Seu Saúde Pública, na qual viveram um intenso, porém finito grande amor. Quiseram eles unirem-se mas D. Constituição o achava muito longe do povo, destoando daquelas lindas palavras que ele lhe falava ao ouvido.
D. Constituição até que gostou dos dois, mas sabia que não podia se desvincular de seus laços afetivos e constitutivos de seu esposo. Preferiu, então, mais uma vez, jogar toda a carga daquilo que não conseguia resolver pra cima de outrem, que também, sabia ela, fugia-lhe à alçada de resolução.
Sobre o espinhaço dilacerado de mágoas e descaminhos de Seu Brasil, D. Constituição jogou-lhe as cargas de algo que ela só pode garantir através de palavras: que o ideário utópico de Seu Saúde Pública chegue, de fato, às camadas mais populares e que Seu Educação Brasileira consiga transformar em eventos práticos e teorias prenhes suas falas retóricas e, por vezes, ingenuamente ufanistas.
Fez, pois, o que sempre fizera: prometera, aliás, garantira. Sob as costas magras, ossudas e velhacas de quem lhe desposara; sob um discurso pós-moderno de um Estado neo-liberal transformou seu marido em um paternalista já fora de moda (que ainda reclama um absolutismo setecentista), esquecendo-se dos modelos em voga, contradizendo-se e vitimando-se a si mesma, fadando Seu Brasil ao insucesso, quiçá ao aniquilamento.
20.jun.2009
O primeiro deles, Seu Saúde, é um simpático senhor que durante toda sua vida esforçou-se ao máximo para que seus feitos chegassem ao conhecimento e ao usufruto de todos. Gosta ele de ser chamado por seu pomposo nome acrescido de seu sobrenome: Seu Saúde Pública.
Esqueci de mencionar o mais importante: Seu Saúde é artista. Durante todo seu pernoitar neste mundo tentou, quase sempre em vão, que suas partituras, suas letras, seus arranjos e suas melodias fossem do conhecimento do grande público. Hoje, com sua saúde já debilitada, torce para que seus versos sejam mais lidos, mais compreendidos e mais executados também.
Apesar de ter sido assessorado por grandes intelectuais, ilustres nomes do pensar, Seu Saúde nunca passou de um augusto desconhecido das grandes massas. Aliás, seu nome até ecoa dos barracos favelizados às mansões imperiais. Porém é apenas seu nome, e não a pessoa Saúde Pública e suas benesses artístico-culturais que faz voz nas pessoas.
Não são suas melodias faustosas e seus promissores efeitos que o público conhece, é apenas seu nome, como uma promessa de uma utopia ainda distante.
Não obstante sua simpatia e mesmo sua tímida aproximação com seu público em potencial, Seu Saúde não conseguiu conquistar o grande amor da sua vida: uma senhora às vezes rabugenta demais, às vezes sensível demais. Mas o que mais a identifica é seu estranho e desdenhoso hábito de fazer promessas as quais não consegue cumprir. Atende pelo promíscuo nome de Constituição Cidadã.
Ao falarmos da vida desta quase caducante senhora que por toda sua vida passou por incontáveis quedas e posteriores modificações – algumas radicais outras nem tanto – até apodar-se de Constituição Cidadã, logo lembramos os políticos de nosso país: tudo nos prometem, tudo nos garantem e nunca nos dizem um "não". Apesar desta comparação, sei que D. Constituição vive repetindo pelo bairro que não gosta de política.
Porém um algo a mais tem em seus dizeres que a difere de um mero discurso planfetário. Sua voz serena mas firme parece-nos ter a força de leis escritas. Se é ela quem fala logo nos tranqüilizamos. Um dos argumentos mais convincentes do bairro, quase um chavão, usado nas mesas de bar ou mesmo nas brigas entre vizinhos por um pedaço a mais de varal é: "Foi D. Constituição que garantiu".
Agora vou apresentar outro cidadão que também é um ícone do bairro onde moro. É daqueles sujeitos que se conhece e nunca se esquece. Ou se gosta muito dele ou o deixamos a falar a sós, com suas promessas mirabolantes e pouco modestas. Ele é um dos cidadãos mais fanfarrões que se tem notícia. Com um discurso recheado de palavras bonitas - a maioria retóricas e prolixas – apresenta-se aos outros quase como uma panacéia dos problemas alheios. Diz ser capaz de resolver todos os dilemas dos outros. Mais: se diz o caminho para a autonomia dos processos subjetivos. Seu nome, Educação Brasileira.
Seu Educação muitas vezes é tomado no bairro como uma pessoa arrogante. Sobretudo porque, ao aqui chegar, também prometera, assim como D. Constituição, coisas que não pôde cumprir. A diferença é que fizera juras de mudanças a longo prazo, pediu tempo, o que lhe foi dado, mas não deu o devido retorno à comunidade, já que prometeu liberdade e auto-suficiência ao fim de um processo. Tal processo, como já foi dito, mostrou-se falho.
Já falei de sua coincidência com D. Constituição. Agora vou lhes dizer de sua semelhança com Seu Saúde. Os dois amam e nunca conquistaram a mesma mulher. Isso mesmo, D. Constituição é também dona do coração de Seu Educação.
Seria uma grande falha minha se não vos dissesse que esta senhora que a tudo promete é casada com Seu Brasil Lesado Pelos Outros.
Dado a imponência e a variedade de seus sobrenomes, Seu Brasil sabe que é a figura de maior poder aquisitivo do bairro. O que não sabe é que sua fortuna poderia multiplicar-se por infinitas vezes se se desse conta de sua riqueza em potencial.
Seu Brasil teve muitos filhos em sua espessa, lânguida e, por assim dizer, fértil vida. Em sua imensa maioria canalhas, calhordas e cafajestes. Isso só pra não sair da letra 'c'.
Cabe dizer que, apesar de seu casamento longínquo e duradouro com D. Constituição, muitos de seus filhos são frutos de outras "transações" maliciosas, resultados de sua solteirice. Lascívias voláteis. O que não posso negar é sua rara habilidade em criar nomes criativos para seus muitos filhos. Alguns nomes: "Dívida Externa", "Subdesenvolvimento ", "Censura", "Povo Sem Educação", "Povo Sem Saúde", "País do Futebol", "País do Futuro", "Seu Zé", "D. Maria"...
Ao longo de sua vida Seu Brasil teve um sem número de empregados que lhe passaram a perna. Apesar de seu filho "Jeitinho Brasileiro" tentar ajudar-lhe, o marido de D. Constituição sempre teve suas receitas – como diria um filho do casal, Chico Buarque de Hollanda –, "subtraídas em tenebrosas transações".
Em sua vida já vendeu de tudo para sobreviver: madeira, açúcar, escravos, ouro, café. Hoje se vende em cada esquina, a cada passo inseguro e vacilante. Vende-se a preços tabelados. Porém orgulha-se de vender a si mesmo e aos filhos ao sabor do preço do petróleo. Além do mais, vende-se em dólar. Orgulha-se também de ter amigos no exterior que lhe emprestam, sempre que precisa, dinheiro a juros irreais e desumanos.
D. Constituição tem-lhe um grande carinho e, apesar das tantas quebras e rinhas, acha-se muito feliz em seu matrimônio. O que mais admira em seu marido são os filhos dele e a capacidade que estes têm, contra todas as expectativas, de amá-lo. Porém, preferiria que a riqueza de Seu Brasil fosse melhor repartida entre sua família (a sua e a de seu esposo).
Seu enlace amoroso deu-se nos primeiros anos da década de 1820. Em 1824 deu-se o casório, com toda pompa e circunstância, tal como num matrimônio imperial. Apesar do posterior rompimento dos dois com a Igreja Católica foi esta quem abençoou, em nome de um Deus onipotente e onipresente, a união do nascente casal.
Seu Brasil nunca traiu o matrimônio, apesar de quase nunca conseguir cumprir o que prometera a D. Constituição. Esta, se não teve amantes fixos, teve pelo menos duas puladas de cerca.
A primeira delas foi com Seu Educação, na qual firmaram um tênue relacionamento que prometia ser benéfico para todo o bairro. Como se sabe, tal relacionamento não deixou outro fruto a não ser a desmoralização e o descrédito de Seu Brasil perante sua comunidade.
A segunda vez foi com Seu Saúde Pública, na qual viveram um intenso, porém finito grande amor. Quiseram eles unirem-se mas D. Constituição o achava muito longe do povo, destoando daquelas lindas palavras que ele lhe falava ao ouvido.
D. Constituição até que gostou dos dois, mas sabia que não podia se desvincular de seus laços afetivos e constitutivos de seu esposo. Preferiu, então, mais uma vez, jogar toda a carga daquilo que não conseguia resolver pra cima de outrem, que também, sabia ela, fugia-lhe à alçada de resolução.
Sobre o espinhaço dilacerado de mágoas e descaminhos de Seu Brasil, D. Constituição jogou-lhe as cargas de algo que ela só pode garantir através de palavras: que o ideário utópico de Seu Saúde Pública chegue, de fato, às camadas mais populares e que Seu Educação Brasileira consiga transformar em eventos práticos e teorias prenhes suas falas retóricas e, por vezes, ingenuamente ufanistas.
Fez, pois, o que sempre fizera: prometera, aliás, garantira. Sob as costas magras, ossudas e velhacas de quem lhe desposara; sob um discurso pós-moderno de um Estado neo-liberal transformou seu marido em um paternalista já fora de moda (que ainda reclama um absolutismo setecentista), esquecendo-se dos modelos em voga, contradizendo-se e vitimando-se a si mesma, fadando Seu Brasil ao insucesso, quiçá ao aniquilamento.
20.jun.2009
Meu corpo me pertence
Um escarro, um beijo, um arroto.
Catarro, cheiro de peido, peixe morto.
Casca de ferida, sangue, um corte na língua.
Uma mosca sem vida, pus e uma íngua.
Meu sangue foi batido no liquidificador:
cago angústia, espirro melancolia, escarro dor,
Meus sentimentos são minhas excreções:
transpiro amores, durmo agonias, suo paixões.
Purulento, desce melífluo meu catarro.
Sua queda insiste em não cair.
Tem um tom amarelento meu escarro.
Sentimentos que cheiram à morte.
Amo meus dejetos. Vivo pra expeli-los.
Minhas excreções são o que mais me pertencem.
20.jul.2009
Catarro, cheiro de peido, peixe morto.
Casca de ferida, sangue, um corte na língua.
Uma mosca sem vida, pus e uma íngua.
Meu sangue foi batido no liquidificador:
cago angústia, espirro melancolia, escarro dor,
Meus sentimentos são minhas excreções:
transpiro amores, durmo agonias, suo paixões.
Purulento, desce melífluo meu catarro.
Sua queda insiste em não cair.
Tem um tom amarelento meu escarro.
Sentimentos que cheiram à morte.
Amo meus dejetos. Vivo pra expeli-los.
Minhas excreções são o que mais me pertencem.
20.jul.2009
Amor?
Amor é amor.
Amar é amor.
Amor é amar!
Amor é amor a tudo
e amor a nada.
Amor aos desamores
aos instantes desalmados.
Dissabores petrificados.
Ama-se quando se perdoa?
Não, se perdoa quando se ama.
Ama-se ao longíquo
Ama-se à distância
e também a distancia
que nos fazem:
ama-se a falta do outro!
Mas ama-se, sobretudo sua presença.
Seu doce estado de estar em nós.
Amor é completude.
Mais: amor é inventar-se.
(Re) inventar-se a cada instante dito
e a cada instante não dito.
A cada momento amado e a cada não-amor,
a cada amor ao nada.
Inventar-se e deixar-se inventar pelo outro.
Amor ao desconhecido.
Amor ao devir.
Amor ao não-se-sabe.
Amor ao que se sabe:
amor!
Amor é estar perto quando longe!
Amor é estar longe quando perto.
Amor é duvidar das certezas e acreditar nas dúvidas.
É duvidar das dúvidas e acreditar nas certezas.
Amor é amor ao tudo e amor ao nada.
Amor não se explica,
- sua esperteza disfarçada de singeleza
não o deixa cair na armadilha
das conceituações - .
Amor não se explica: amor se sente
se consome, consome-se aos outros.
Porém não se explica, não se define.
Não se deixa petrificar por palavras.
Amor é arisco: não repousa em conceituações.
Mais: lhe bendizem as contradições.
O amor foi inventado
pra ser amado...
sentido e reinventado
a cada instante de amor renovado.
Dele brotam-se os melhores instantes...
...e os piores também.
(Amar é aceitar o risco de sofrer!)
Mas amor?
Amor é o nada que é tudo e o tudo que é nada.
Amor é não se definir.
Amor é sentir.
Amor é isso:
renovação divorciada da razão.
Em suma, amor
é encontro e desencontro!
Amor é amor.
Amar é amor.
Amor é amar!
19.ago.2009
Amar é amor.
Amor é amar!
Amor é amor a tudo
e amor a nada.
Amor aos desamores
aos instantes desalmados.
Dissabores petrificados.
Ama-se quando se perdoa?
Não, se perdoa quando se ama.
Ama-se ao longíquo
Ama-se à distância
e também a distancia
que nos fazem:
ama-se a falta do outro!
Mas ama-se, sobretudo sua presença.
Seu doce estado de estar em nós.
Amor é completude.
Mais: amor é inventar-se.
(Re) inventar-se a cada instante dito
e a cada instante não dito.
A cada momento amado e a cada não-amor,
a cada amor ao nada.
Inventar-se e deixar-se inventar pelo outro.
Amor ao desconhecido.
Amor ao devir.
Amor ao não-se-sabe.
Amor ao que se sabe:
amor!
Amor é estar perto quando longe!
Amor é estar longe quando perto.
Amor é duvidar das certezas e acreditar nas dúvidas.
É duvidar das dúvidas e acreditar nas certezas.
Amor é amor ao tudo e amor ao nada.
Amor não se explica,
- sua esperteza disfarçada de singeleza
não o deixa cair na armadilha
das conceituações - .
Amor não se explica: amor se sente
se consome, consome-se aos outros.
Porém não se explica, não se define.
Não se deixa petrificar por palavras.
Amor é arisco: não repousa em conceituações.
Mais: lhe bendizem as contradições.
O amor foi inventado
pra ser amado...
sentido e reinventado
a cada instante de amor renovado.
Dele brotam-se os melhores instantes...
...e os piores também.
(Amar é aceitar o risco de sofrer!)
Mas amor?
Amor é o nada que é tudo e o tudo que é nada.
Amor é não se definir.
Amor é sentir.
Amor é isso:
renovação divorciada da razão.
Em suma, amor
é encontro e desencontro!
Amor é amor.
Amar é amor.
Amor é amar!
19.ago.2009
domingo, 2 de agosto de 2009
O Último Beijo
Eu já a namorava há mais de um ano. Amava-a com uma certeza matemática. Adorava ficar sem fazer nada perto dela, apenas olhando para aquele rostinho angelical. Só o fato de estar ao seu lado, me deixava simplesmente feliz, com a simplicidade das pequenas coisas, apenas com isso, me sentia verdadeiramente feliz. Com uma felicidade boba que eu jamais pensava que uma pessoa pudesse proporcionar a outrem.
Também não duvidava – jamais!!! – dos seus sentimentos em relação a mim. Sabia que ela me amava tanto ou mais que eu. Nossos sentimentos eram recíprocos e, sobretudo, sinceros. Em mais de um ano eu percebi realmente o sentido da palavra e, principalmente, do sentimento amor.
Mas algo não ia bem, nos amávamos, mas a distância nos separava. Ela morava numa capital de um estado e eu em outra capital. A distância às vezes fazia nosso amor ficar maior, fazia com que quando nos víamos, sentíssemos mais o amor proveniente do outro. Mas, como eu ia dizendo, algo não ia bem...
Essa mesma distância que tanto nos fazia unir quando estávamos juntos, era a mesma vilã de quando nos separávamos. Vinha à minha cabeça as coisas mais loucas, o que ela estaria fazendo, com quem ela estaria... Principalmente com quem ela estaria! Sentiria-me um mentiroso se dissesse que confiava nela. Confiava desconfiando. Às vezes eu próprio me repudiava por não confiar em alguém que não me dava motivos para duvidar de sua fidelidade.
Mas aquilo martelava minha cabeça, impedindo-me o sono. Quanto mais eu pensava, mais tinha certeza de que ela me trairia um dia ou então que aquilo já tivera acontecido. Apesar de ela nunca me dar motivos para desconfiar de sua lealdade....Eu tinha aquilo como uma certeza absoluta, assim como todos os cristãos têm a morte.
Aquele amor incondicional e, sobretudo aquela incerteza homérica me faziam criar uma macabra idéia na minha cabeça: matar a mulher que eu amava! Matar a quem eu seria capaz de dar minha própria vida. Aqueles devaneios me davam calafrios! Mas só assim me privaria de passar a vida dependente de alguém, pois amar é depender de alguém, e me livraria daquela já angustiosa e sombria dúvida que pairava sobre minha cabeça. Matá-la e viver companheiro da solidão o resto da vida...
Na ocasião do feriado de Finados eu iria encontrá-la em sua cidade. Fazia quase um mês que não nos víamos e eu estava deixando de ser um homem para ser apenas um pedaço de carne com saudades.
Num gesto de extrema insanidade pus um punhal – herança de meu falecido pai – dentro de milha bolsa. Hoje quando lembro disso sinto um arrependimento tão intenso que chego a sentir dores. Pra quê aquele punhal? Aparentemente ele não teria nenhuma serventia naquela cidade. Aliás, ele não tinha serventia alguma em minha vida. Guardava-o porque meu pai o havia me dado em vida.
O feriado foi maravilhoso! Fizemos tanta coisa juntos! Fomos tão felizes um ao lado do outro! Sentíamos, a cada vez que nos víamos, que nos amávamos mais e mais. Mas naquela noite, mesmo ao lado dela, a insônia veio invés do sono e aqueles pensamentos que só me vinham quando estava sozinho se apoderaram de minha mente.
Numa demência mental, levantei-me, peguei o punhal dentro da bolsa e guardei-o debaixo de meu travesseiro. Quando acordamos na manhã seguinte – na verdade apenas ela acordou, já que eu não havia pregado o olho – um assomo de irracionalidade tomou conta de meu ser. Não sabia o que era aquilo, nunca tinha passado por algo semelhante. Eu próprio não me reconhecia. Eu não conseguia me controlar, eu não pensava. O ciúme era minha fala.
Bruscamente peguei seu braço e com uma brutalidade própria dos sádicos – imagine, aquela foi a primeira vez que não a tratei com delicadeza – sacudi-a e perguntei se ela me amava. Ela me respondeu com uma sinceridade que doeu em minha alma. Mas eu já estava decidido: iria matá-la!
Com medo no olhar ela me jurou amor eterno. Brutalmente falei:
– Se você me ama vira de costas!
Ela, como que impelida por uma força maior que seu próprio corpo, virou instantaneamente.
E eu, covardemente, enfiei-lhe o punhal por entre suas costelas e depois por baixo de seu peito esquerdo. Tudo estava consumado! Eu acabara de matar a mulher que amava!
Amava porque hoje não consigo amar ninguém. Meu coração é puro ódio. Tornei-me uma pessoa amarga.
Hoje a solidão e o arrependimento são meus filhos que não tive com minha amada. Atrás das grades, quando penso naquele maldito 02 de novembro, sinto-me um ser desprovido de sentimentos e não tenho hombridade suficiente para enfiar aquele mesmo punhal em minhas desgraçadas carnes...
07.jan.2007
Também não duvidava – jamais!!! – dos seus sentimentos em relação a mim. Sabia que ela me amava tanto ou mais que eu. Nossos sentimentos eram recíprocos e, sobretudo, sinceros. Em mais de um ano eu percebi realmente o sentido da palavra e, principalmente, do sentimento amor.
Mas algo não ia bem, nos amávamos, mas a distância nos separava. Ela morava numa capital de um estado e eu em outra capital. A distância às vezes fazia nosso amor ficar maior, fazia com que quando nos víamos, sentíssemos mais o amor proveniente do outro. Mas, como eu ia dizendo, algo não ia bem...
Essa mesma distância que tanto nos fazia unir quando estávamos juntos, era a mesma vilã de quando nos separávamos. Vinha à minha cabeça as coisas mais loucas, o que ela estaria fazendo, com quem ela estaria... Principalmente com quem ela estaria! Sentiria-me um mentiroso se dissesse que confiava nela. Confiava desconfiando. Às vezes eu próprio me repudiava por não confiar em alguém que não me dava motivos para duvidar de sua fidelidade.
Mas aquilo martelava minha cabeça, impedindo-me o sono. Quanto mais eu pensava, mais tinha certeza de que ela me trairia um dia ou então que aquilo já tivera acontecido. Apesar de ela nunca me dar motivos para desconfiar de sua lealdade....Eu tinha aquilo como uma certeza absoluta, assim como todos os cristãos têm a morte.
Aquele amor incondicional e, sobretudo aquela incerteza homérica me faziam criar uma macabra idéia na minha cabeça: matar a mulher que eu amava! Matar a quem eu seria capaz de dar minha própria vida. Aqueles devaneios me davam calafrios! Mas só assim me privaria de passar a vida dependente de alguém, pois amar é depender de alguém, e me livraria daquela já angustiosa e sombria dúvida que pairava sobre minha cabeça. Matá-la e viver companheiro da solidão o resto da vida...
Na ocasião do feriado de Finados eu iria encontrá-la em sua cidade. Fazia quase um mês que não nos víamos e eu estava deixando de ser um homem para ser apenas um pedaço de carne com saudades.
Num gesto de extrema insanidade pus um punhal – herança de meu falecido pai – dentro de milha bolsa. Hoje quando lembro disso sinto um arrependimento tão intenso que chego a sentir dores. Pra quê aquele punhal? Aparentemente ele não teria nenhuma serventia naquela cidade. Aliás, ele não tinha serventia alguma em minha vida. Guardava-o porque meu pai o havia me dado em vida.
O feriado foi maravilhoso! Fizemos tanta coisa juntos! Fomos tão felizes um ao lado do outro! Sentíamos, a cada vez que nos víamos, que nos amávamos mais e mais. Mas naquela noite, mesmo ao lado dela, a insônia veio invés do sono e aqueles pensamentos que só me vinham quando estava sozinho se apoderaram de minha mente.
Numa demência mental, levantei-me, peguei o punhal dentro da bolsa e guardei-o debaixo de meu travesseiro. Quando acordamos na manhã seguinte – na verdade apenas ela acordou, já que eu não havia pregado o olho – um assomo de irracionalidade tomou conta de meu ser. Não sabia o que era aquilo, nunca tinha passado por algo semelhante. Eu próprio não me reconhecia. Eu não conseguia me controlar, eu não pensava. O ciúme era minha fala.
Bruscamente peguei seu braço e com uma brutalidade própria dos sádicos – imagine, aquela foi a primeira vez que não a tratei com delicadeza – sacudi-a e perguntei se ela me amava. Ela me respondeu com uma sinceridade que doeu em minha alma. Mas eu já estava decidido: iria matá-la!
Com medo no olhar ela me jurou amor eterno. Brutalmente falei:
– Se você me ama vira de costas!
Ela, como que impelida por uma força maior que seu próprio corpo, virou instantaneamente.
E eu, covardemente, enfiei-lhe o punhal por entre suas costelas e depois por baixo de seu peito esquerdo. Tudo estava consumado! Eu acabara de matar a mulher que amava!
Amava porque hoje não consigo amar ninguém. Meu coração é puro ódio. Tornei-me uma pessoa amarga.
Hoje a solidão e o arrependimento são meus filhos que não tive com minha amada. Atrás das grades, quando penso naquele maldito 02 de novembro, sinto-me um ser desprovido de sentimentos e não tenho hombridade suficiente para enfiar aquele mesmo punhal em minhas desgraçadas carnes...
07.jan.2007
Corpus Extensus
Você se foi
mas seu cheiro
ficou em nossos lençóis
ensangüentados de prazer...
Ando por toda a casa
e só enxergo,
só sinto,
só cheiro...você!
Neste momento não sou
um ser independente:
sou apenas
uma extensão do teu corpo.
Não consigo, não tento, não quero
ser eu...
sou apenas uma extensão do teu corpo!
Nada mais que um pedaço
de carnes sentindo saudades...
Apenas uma extensão do teu corpo!
18.mar.2008
mas seu cheiro
ficou em nossos lençóis
ensangüentados de prazer...
Ando por toda a casa
e só enxergo,
só sinto,
só cheiro...você!
Neste momento não sou
um ser independente:
sou apenas
uma extensão do teu corpo.
Não consigo, não tento, não quero
ser eu...
sou apenas uma extensão do teu corpo!
Nada mais que um pedaço
de carnes sentindo saudades...
Apenas uma extensão do teu corpo!
18.mar.2008
Angústia de não ter mais você
Uma dor luceferina,
coisa que só existe pra marcar.
Tal como uma lembrança intra-uterina
que sabemo-la: não vai passar.
Dor que queima como ferro em brasa
uma angústia sem tradução...
É como se alguém cortasse as asas
deste meu pobre coração.
Me dói e é bem maior que minha vida.
Nunca me aproximei tanto da morte.
Mas, seria isso a dor de morrer?
A dor de todas estas feridas?
Tu me abandonas e dá o mote
para o meu desespero de sofrer!
14.jul.2009
coisa que só existe pra marcar.
Tal como uma lembrança intra-uterina
que sabemo-la: não vai passar.
Dor que queima como ferro em brasa
uma angústia sem tradução...
É como se alguém cortasse as asas
deste meu pobre coração.
Me dói e é bem maior que minha vida.
Nunca me aproximei tanto da morte.
Mas, seria isso a dor de morrer?
A dor de todas estas feridas?
Tu me abandonas e dá o mote
para o meu desespero de sofrer!
14.jul.2009
quinta-feira, 2 de julho de 2009
No Cemitério
Já fazia algum tempo que eles namoravam. Ele, como é peculiar a todos os homens, queria ter um relacionamento, por assim dizer, mais carnal. Ela, sempre comedida, tentava acalmá-lo, adiando algo que ela também queria, mas a força das leis sociais a obrigava a agir mais refreada.
Mas um dia, pra Ele uma verdadeira eternidade, finalmente, Ela resolveu ceder. Ele, feliz da vida se deparara agora com um problema: aonde consumar o ato carnal. Tinha pensado tanto no ato que se esquecera do fato. Não tinha preparado ainda um lugar, por assim dizer, mais íntimo.
Ele imaginara de tudo, pedira ajuda a todos os seus amigos mais íntimos mas ninguém, absolutamente ninguém, pôde auxiliá-lo.
Veio então uma idéia meio macabra, meio erótica em seus pensamentos: o cemitério! Sim, ali, estariam sossegados e só teriam como testemunhas anjos – ou demônios? - , que não podiam contar nada pra ninguém. Sim, seria ali que iria dar-se o fato.
Um novo custo foi para Ela aceitar o estranho local. Mais um mês de espera. Aquilo para ele demorou tanto quanto para a mãe de um soldado esperar o fim de uma guerra.
Mas...como diz o velho ditado: quem espera sempre alcança.
Numa noite aparentemente calma de segunda-feira, a cidade estava praticamente deserta. Se alguém parasse e prestasse bem atenção daria pra ouvir ou mesmo ver o sussurrar dos ventos. Uma lua linda coloria o céu de um amarelo meio morto, meio vivo. As estrelas que marcavam-no eram incontáveis. O clima era perfeito. Parece que até a mãe natureza resolveu ajudar o paciente casal enamorado.
À meia-noite, um já impaciente rapaz pulava o antigo e mal cuidado muro do único cemitério da cidadezinha. Conseguiu, a muito custo, abrir o portão já bem gasto no qual os dizeres em latim enfeitavam sua parte superior: hodie mihi, cras tibi.
Nossa simpática e enamorada protagonista estava prestes a desistir desta lúgubre idéia. Mas Ele era implacável. Fazia marcação cerrada. Depois de todo aquele tempo de namoro sabia exatamente onde eram os pontos fracos de sua namorada. Depois de algumas carícias, lá estava ela toda derretida de novo.
Como já era tarde - “ Minha mãe vai me matar!” – deitaram no primeiro túmulo que estava às suas frentes.
O ato erótico-macabro foi consumado ali mesmo, sob as lajes sujas e gélidas daquela sepultura. Uivos se ouviam ora ao longe, ora mais próximos, como se alguma alma, de quando em quando, viesse espiar o que aquele pervertido casal fazia em sua morada eterna.
Na medida do possível, Ela gostou mais que Ele. Terminaram com um gozo profundo e longo... abraçados, nus, acariciavam-se mutuamente. Como testemunhas, a lua, muitas estrelas e alguns seres não identificados(veis). Ao longe uivos de seres de outro mundo... de perto suspiros (não se sabe se de cansaço se de alívio) de seres deste mundo.
A lua iluminava seus corpos nus e a lápide da sepultura na qual estava escrito um nome que fez estremecer todo o corpo d’Ela quando a leu. Sim, aquele mausoléu onde Ela acabara de perder a virgindade guardava os restos mortais de seu falecido pai.
Um grito surdo e desesperado confunde quem escuta: seria um grito humano ou de alguma alma que clama por socorro?
Ele, com um cigarro na mão, também já não sabia o que fazer. Na pressa e, sobretudo no calor do momento, nem viram qual túmulo escolheram.
Ela já não chorava: transformara-se em lágrimas. Estas chegavam ao chão e confundiam-se com os restos mortais de um gozo já gozado (esse já nada mais vale do que uma eterna lembrança). A estas secreções genitais juntam-se os fluidos que todo cemitério tem por comportar em si seres já em putrefação. Uma mistura, dantes romântica, agora grotesca.
Só agora Ela pensa no que acabara de fazer. E principalmente, onde acabara de fazer. Essa dor moral lhe castiga mais que a primeira penetração, quando chegou a ver, de verdade, almas sob sua cabeça...
Ela era a vergonha em pessoa. Ele, a impaciência.
A lua que outrora enfeitara o céu e se mostrara apraz com o ato do casal agora, ao que tudo indica enfurecida, deixara-se encobrir por uma negra nuvem. A atmosfera ficara escura. A natureza, complacente com o corpo do falecido, ficara de luto.
E assim um casal dantes virgem, agora desesperado e impaciente podia ter sido visto naquela marcante noite de segunda-feira celebrando o altar de Vênus numa sepultura, consumando uma espécie de Complexo Édipo às avessas.
15.Set.2008
Mas um dia, pra Ele uma verdadeira eternidade, finalmente, Ela resolveu ceder. Ele, feliz da vida se deparara agora com um problema: aonde consumar o ato carnal. Tinha pensado tanto no ato que se esquecera do fato. Não tinha preparado ainda um lugar, por assim dizer, mais íntimo.
Ele imaginara de tudo, pedira ajuda a todos os seus amigos mais íntimos mas ninguém, absolutamente ninguém, pôde auxiliá-lo.
Veio então uma idéia meio macabra, meio erótica em seus pensamentos: o cemitério! Sim, ali, estariam sossegados e só teriam como testemunhas anjos – ou demônios? - , que não podiam contar nada pra ninguém. Sim, seria ali que iria dar-se o fato.
Um novo custo foi para Ela aceitar o estranho local. Mais um mês de espera. Aquilo para ele demorou tanto quanto para a mãe de um soldado esperar o fim de uma guerra.
Mas...como diz o velho ditado: quem espera sempre alcança.
Numa noite aparentemente calma de segunda-feira, a cidade estava praticamente deserta. Se alguém parasse e prestasse bem atenção daria pra ouvir ou mesmo ver o sussurrar dos ventos. Uma lua linda coloria o céu de um amarelo meio morto, meio vivo. As estrelas que marcavam-no eram incontáveis. O clima era perfeito. Parece que até a mãe natureza resolveu ajudar o paciente casal enamorado.
À meia-noite, um já impaciente rapaz pulava o antigo e mal cuidado muro do único cemitério da cidadezinha. Conseguiu, a muito custo, abrir o portão já bem gasto no qual os dizeres em latim enfeitavam sua parte superior: hodie mihi, cras tibi.
Nossa simpática e enamorada protagonista estava prestes a desistir desta lúgubre idéia. Mas Ele era implacável. Fazia marcação cerrada. Depois de todo aquele tempo de namoro sabia exatamente onde eram os pontos fracos de sua namorada. Depois de algumas carícias, lá estava ela toda derretida de novo.
Como já era tarde - “ Minha mãe vai me matar!” – deitaram no primeiro túmulo que estava às suas frentes.
O ato erótico-macabro foi consumado ali mesmo, sob as lajes sujas e gélidas daquela sepultura. Uivos se ouviam ora ao longe, ora mais próximos, como se alguma alma, de quando em quando, viesse espiar o que aquele pervertido casal fazia em sua morada eterna.
Na medida do possível, Ela gostou mais que Ele. Terminaram com um gozo profundo e longo... abraçados, nus, acariciavam-se mutuamente. Como testemunhas, a lua, muitas estrelas e alguns seres não identificados(veis). Ao longe uivos de seres de outro mundo... de perto suspiros (não se sabe se de cansaço se de alívio) de seres deste mundo.
A lua iluminava seus corpos nus e a lápide da sepultura na qual estava escrito um nome que fez estremecer todo o corpo d’Ela quando a leu. Sim, aquele mausoléu onde Ela acabara de perder a virgindade guardava os restos mortais de seu falecido pai.
Um grito surdo e desesperado confunde quem escuta: seria um grito humano ou de alguma alma que clama por socorro?
Ele, com um cigarro na mão, também já não sabia o que fazer. Na pressa e, sobretudo no calor do momento, nem viram qual túmulo escolheram.
Ela já não chorava: transformara-se em lágrimas. Estas chegavam ao chão e confundiam-se com os restos mortais de um gozo já gozado (esse já nada mais vale do que uma eterna lembrança). A estas secreções genitais juntam-se os fluidos que todo cemitério tem por comportar em si seres já em putrefação. Uma mistura, dantes romântica, agora grotesca.
Só agora Ela pensa no que acabara de fazer. E principalmente, onde acabara de fazer. Essa dor moral lhe castiga mais que a primeira penetração, quando chegou a ver, de verdade, almas sob sua cabeça...
Ela era a vergonha em pessoa. Ele, a impaciência.
A lua que outrora enfeitara o céu e se mostrara apraz com o ato do casal agora, ao que tudo indica enfurecida, deixara-se encobrir por uma negra nuvem. A atmosfera ficara escura. A natureza, complacente com o corpo do falecido, ficara de luto.
E assim um casal dantes virgem, agora desesperado e impaciente podia ter sido visto naquela marcante noite de segunda-feira celebrando o altar de Vênus numa sepultura, consumando uma espécie de Complexo Édipo às avessas.
15.Set.2008
Por que não voltas?
Por que eu tenho de dormir
se tenho a certeza que,
ao acordar,
não estarás ao meu lado?
Por que insisto em te ver onde não estás?
Por que te sinto sempre ao meu lado
se bem longe estás agora?
Por que foste tu para longe de mim
se esqueceste de levar o que mais te pertence?
Tu te foste e me deixaste aqui
sem saber o que fazer
a não ser esperar que tu voltes...
Por que não voltas?
19.mar.2008
se tenho a certeza que,
ao acordar,
não estarás ao meu lado?
Por que insisto em te ver onde não estás?
Por que te sinto sempre ao meu lado
se bem longe estás agora?
Por que foste tu para longe de mim
se esqueceste de levar o que mais te pertence?
Tu te foste e me deixaste aqui
sem saber o que fazer
a não ser esperar que tu voltes...
Por que não voltas?
19.mar.2008
Insônia
Hoje foi mais uma daquelas
noites que não durmi
pensando em lembranças eternas
que perdi ao seu lado.
Amanhece lá fora
e uma chuva fina
me poupa as lágrimas
(Sim, o céu chorou por mim!).
Até o Cosmos parece
lamentar minha melancolia
e minha tristeza.
A água bate no vidro da janela,
e, ao cair ao chão,
forma uma mistura excêntrica
de prosperidade e tristeza,
ao passo que o sangue de meu corpo
rega meu coração de saudades...
31.dez.2005
noites que não durmi
pensando em lembranças eternas
que perdi ao seu lado.
Amanhece lá fora
e uma chuva fina
me poupa as lágrimas
(Sim, o céu chorou por mim!).
Até o Cosmos parece
lamentar minha melancolia
e minha tristeza.
A água bate no vidro da janela,
e, ao cair ao chão,
forma uma mistura excêntrica
de prosperidade e tristeza,
ao passo que o sangue de meu corpo
rega meu coração de saudades...
31.dez.2005
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Talvez
Em algum lugar do globo um garotinho de onze anos ouve Nirvana trancado num quarto sombrio. Sua mãe vê-lhe um futuro macabro: imagina-o dali a dois anos com uma ampola na mão à beira de uma overdose de entorpecentes. Em um hospital ali próximo um médico negro consulta o filhinho de um casal de classe média enquanto seus pais torcem o nariz perante a cor do profissional.
No mesmo hospital, no quarto ao lado, um triste palhaço tenta, em vão, alegrar uma garotinha soropositiva. Dali a duas quadras, um marido espanca sua esposa na frente dos filhos por ela ter gasto o dinheiro de um incentivo do governo comprando material escolar para as crianças. Ele queria comprar cachaça! Numa outra cidade, em um outro estado, quiçá em um outro continente, uma linda menina loira, de olhos cuja cor se define pela intensidade da luz do sol, dá pipoca aos gorilas no zoológico, enquanto lá fora uma criança pede esmola para comprar o almoço de ontem.
Perto de um aeroporto famoso em todo o mundo mora uma menina dona de seus 12 anos com corpo ainda de 8. Ela está muito feliz por ter tido sua primeira menstruação (ela fôra a primeira de sua turma). Na mesma casa, um quarto e um corredor depois, sua irmã está desesperada porque a sua ainda não veio...está nua no quarto, em pé, com as mãos cobrindo o rosto, deixando à mostra todo o seu corpo. Pela janelinha do banheiro, também já quase nu, seu padrasto observa tudo.
Dois irmãos brigam pela herança pobre que seu falecido pai lhes deixara. Repetem, agora, quase adultos, as brigas que mantinham quando crianças pelos times de botão ou pelo controle da televisão.
Já bem distante dali (talvez perto de onde esteja eu) um casal, ela de 12, ele de 14, perdem, mutuamente, suas virgindades. Ele pensa no orgulho que o pai lhe terá, ela em como pedirá à mãe para compra-lhe anticoncepcionais. Dois países ao norte, um outro casal perde sua virgindade: eles são irmãos sanguíneos, mas ainda não o sabem...Em um outro local, um filho perde sua virgindade com sua mãe, materializando seu Complexo de Édipo.
Um adolescente entra na farmácia mais próxima para comprar cigarros. A moça o atende muito bem e eles trocam telefone. No próximo país ao sul, um pequeno grupo de estudantes fuma maconha e questiona-se sobre seu presidente (seria ele um fascista de esquerda ou um fascista de direita?). Os mais exaltados tramam planos para derrubá-lo do poder.
No exército de um país em guerra dois soldados homossexuais transam dentro da sala do general. A mulher de um deles chega, enquanto um sargento dá berros sob a chuva na trincheira que armaram para o inimigo. Seus soldados nem lhe dão muita atenção, pois o jogo de futebol na televisão está bem mais interessante.
Dali a alguns graus de latitude abaixo, partindo do centro, uma garota lê Dostoiveski e masturba-se ao pensar no drama humano. Em qualquer lugar, exatamente na hora em que ela atinge o orgasmo, uma criança morre de fome.
Num convento católico de um país de maioria budista, uma freira espia os futuros padres banharem-se nus no rio. Perto dali (e talvez muito mais perto daqui) um padre e um psicólogo trocam confidências...alheias!
Mais ao centro, onde o sol é mais cruel, quatro homens jogam baralho há dois dias sem parar. Todos os quatro já perderam todo o dinheiro que tinham nas apostas do jogo e mesmo assim continuam a jogar. Mas onde está o dinheiro que trouxeram? ‘Algum negro deve ter roubado’, pensam rapidamente para não perderem a concentração no jogo. E continuam a jogar e a perder dinheiro, todos os quatro...
Há dois dias dois jovens estão trancados em um quarto drogando-se. Não sentem sono, não sentem fome. Aliás, não sentem nada, a não ser a vontade de consumir mais droga.
Um casal de namorados brinca de serem marido e mulher na frente do gato de um deles. O felino observa tudo atentamente, talvez presenciando o maior ato humano: a consumação do amor! Ou talvez simplesmente não entendendo nada...
Alguns muitos graus a sudoeste, um casal de 65 anos transa ouvindo Mozart e Bach. Os dois gozam e fumam muito. Eles não veem graça em posições convencionais e continuam a inventar novas. Também continuam fumando e gozando muito.
Mais uma criança morre de fome agora enquanto, em uma grande empresa multinacional,um dos diretores trai sua esposa com o faxineiro.
14.mar.2008
No mesmo hospital, no quarto ao lado, um triste palhaço tenta, em vão, alegrar uma garotinha soropositiva. Dali a duas quadras, um marido espanca sua esposa na frente dos filhos por ela ter gasto o dinheiro de um incentivo do governo comprando material escolar para as crianças. Ele queria comprar cachaça! Numa outra cidade, em um outro estado, quiçá em um outro continente, uma linda menina loira, de olhos cuja cor se define pela intensidade da luz do sol, dá pipoca aos gorilas no zoológico, enquanto lá fora uma criança pede esmola para comprar o almoço de ontem.
Perto de um aeroporto famoso em todo o mundo mora uma menina dona de seus 12 anos com corpo ainda de 8. Ela está muito feliz por ter tido sua primeira menstruação (ela fôra a primeira de sua turma). Na mesma casa, um quarto e um corredor depois, sua irmã está desesperada porque a sua ainda não veio...está nua no quarto, em pé, com as mãos cobrindo o rosto, deixando à mostra todo o seu corpo. Pela janelinha do banheiro, também já quase nu, seu padrasto observa tudo.
Dois irmãos brigam pela herança pobre que seu falecido pai lhes deixara. Repetem, agora, quase adultos, as brigas que mantinham quando crianças pelos times de botão ou pelo controle da televisão.
Já bem distante dali (talvez perto de onde esteja eu) um casal, ela de 12, ele de 14, perdem, mutuamente, suas virgindades. Ele pensa no orgulho que o pai lhe terá, ela em como pedirá à mãe para compra-lhe anticoncepcionais. Dois países ao norte, um outro casal perde sua virgindade: eles são irmãos sanguíneos, mas ainda não o sabem...Em um outro local, um filho perde sua virgindade com sua mãe, materializando seu Complexo de Édipo.
Um adolescente entra na farmácia mais próxima para comprar cigarros. A moça o atende muito bem e eles trocam telefone. No próximo país ao sul, um pequeno grupo de estudantes fuma maconha e questiona-se sobre seu presidente (seria ele um fascista de esquerda ou um fascista de direita?). Os mais exaltados tramam planos para derrubá-lo do poder.
No exército de um país em guerra dois soldados homossexuais transam dentro da sala do general. A mulher de um deles chega, enquanto um sargento dá berros sob a chuva na trincheira que armaram para o inimigo. Seus soldados nem lhe dão muita atenção, pois o jogo de futebol na televisão está bem mais interessante.
Dali a alguns graus de latitude abaixo, partindo do centro, uma garota lê Dostoiveski e masturba-se ao pensar no drama humano. Em qualquer lugar, exatamente na hora em que ela atinge o orgasmo, uma criança morre de fome.
Num convento católico de um país de maioria budista, uma freira espia os futuros padres banharem-se nus no rio. Perto dali (e talvez muito mais perto daqui) um padre e um psicólogo trocam confidências...alheias!
Mais ao centro, onde o sol é mais cruel, quatro homens jogam baralho há dois dias sem parar. Todos os quatro já perderam todo o dinheiro que tinham nas apostas do jogo e mesmo assim continuam a jogar. Mas onde está o dinheiro que trouxeram? ‘Algum negro deve ter roubado’, pensam rapidamente para não perderem a concentração no jogo. E continuam a jogar e a perder dinheiro, todos os quatro...
Há dois dias dois jovens estão trancados em um quarto drogando-se. Não sentem sono, não sentem fome. Aliás, não sentem nada, a não ser a vontade de consumir mais droga.
Um casal de namorados brinca de serem marido e mulher na frente do gato de um deles. O felino observa tudo atentamente, talvez presenciando o maior ato humano: a consumação do amor! Ou talvez simplesmente não entendendo nada...
Alguns muitos graus a sudoeste, um casal de 65 anos transa ouvindo Mozart e Bach. Os dois gozam e fumam muito. Eles não veem graça em posições convencionais e continuam a inventar novas. Também continuam fumando e gozando muito.
Mais uma criança morre de fome agora enquanto, em uma grande empresa multinacional,um dos diretores trai sua esposa com o faxineiro.
14.mar.2008
domingo, 14 de junho de 2009
Verônica Decide Morrer
Eu não quero ir pro inferno;
Mas não tenho certeza se quero ir pro céu.
Quero achar um lugar intermediário
nem um mar de rosas nem um sonho léu.
Um fim sem começo
nem tudo contra o contrário.
Um suicídio mal sucedido
uma faca, um tiro
ou mesmo um comprimido.
Quem disse que o fim não chegou?
Você se deu um tiro mas não se matou.
Verônica decide morrer.
Agora quero saber: e você?
Quem inventou o suicídio?
Responda agora ou cale-se pra sempre.
Se não souber, pelo menos tente!
Quem inventou o suicídio?
Quem souber fale em alto e bom tom.
Na falta do que fazer
inventei o suicídio.
Verônica decide morrer.
Agora quero saber: e você?
Um tiro a sós no quarto trancada
a porta arrombada, um corpo no chão.
Você acredita, eu não!
Não acredito no que vejo;
Você não acredita em mim;
Eu não acredito em ninguém, eu acredito sim.
Verônica decide morrer.
Agora quero saber: e você?
To sentindo o cheiro da morte.
A morte pra vir só precisa de uma desculpa
E eu, sem culpa, quero você pra mim.
Sem saber porque lembro de você e sinto saudades...
Seu maior erro na vida lhe levou à morte:
muito azar ou pura sorte?
Mar. 2002
Mas não tenho certeza se quero ir pro céu.
Quero achar um lugar intermediário
nem um mar de rosas nem um sonho léu.
Um fim sem começo
nem tudo contra o contrário.
Um suicídio mal sucedido
uma faca, um tiro
ou mesmo um comprimido.
Quem disse que o fim não chegou?
Você se deu um tiro mas não se matou.
Verônica decide morrer.
Agora quero saber: e você?
Quem inventou o suicídio?
Responda agora ou cale-se pra sempre.
Se não souber, pelo menos tente!
Quem inventou o suicídio?
Quem souber fale em alto e bom tom.
Na falta do que fazer
inventei o suicídio.
Verônica decide morrer.
Agora quero saber: e você?
Um tiro a sós no quarto trancada
a porta arrombada, um corpo no chão.
Você acredita, eu não!
Não acredito no que vejo;
Você não acredita em mim;
Eu não acredito em ninguém, eu acredito sim.
Verônica decide morrer.
Agora quero saber: e você?
To sentindo o cheiro da morte.
A morte pra vir só precisa de uma desculpa
E eu, sem culpa, quero você pra mim.
Sem saber porque lembro de você e sinto saudades...
Seu maior erro na vida lhe levou à morte:
muito azar ou pura sorte?
Mar. 2002
Oedipous
Manhã. Tarde.
Um sol que arde.
Cabeças a mil.
Mil passos sem direção...
Um coração que chora
um ser que implora
em vão...
Chega a noite que esfria o tempo
enquanto minhas lágrimas esquentam meu colchão.
A madrugada chega e traz consigo minha insônia.
Um dia (uma vida) inteiro de sofrimento.
Ver-te feliz ao lado de Outro
só torna maior meu lamento...
Em mim lágrimas e suores se confundem.
Meu pranto é por ti que me geraste
e eu na esperança do incesto
enquanto vossos corpos se co-fundem...
Tu que me escapaste
Tu e Ele numa cama como contexto.
12.Set. 2008
Um sol que arde.
Cabeças a mil.
Mil passos sem direção...
Um coração que chora
um ser que implora
em vão...
Chega a noite que esfria o tempo
enquanto minhas lágrimas esquentam meu colchão.
A madrugada chega e traz consigo minha insônia.
Um dia (uma vida) inteiro de sofrimento.
Ver-te feliz ao lado de Outro
só torna maior meu lamento...
Em mim lágrimas e suores se confundem.
Meu pranto é por ti que me geraste
e eu na esperança do incesto
enquanto vossos corpos se co-fundem...
Tu que me escapaste
Tu e Ele numa cama como contexto.
12.Set. 2008
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