Até uma gota d'água consegue se diferenciar das outras em meio a uma imensidão sem fim de gotas iguais...Mas por que nós, seres humanos, instituídos por uma razão e uma pretensa capacidade de pensar, insistimos tanto em sermos iguais uns aos outros?

Vivo a diferença a cada suspiro meu, a cada gota de suor, a cada raio de sol, a cada novo luar, a cada sinapse neurótica de meu cérebro, a cada instante, a cada momento, a cada sempre...

Viva a diferença, não ao estereótipo!



"Ser poeta não é ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho."

Fernando Pessoa

domingo, 13 de novembro de 2011

Ninguém


O calor piorou depois do banho
- Ninguém ao meu lado está!
O café não tirou o sono
Ninguém ficou de voltar.

Onde estará o quê de mim
agora que não sei mais quem sou?
Existe uma dor própria de morrer
ou é mera impressão
esse não sei o quê de amor?

Quais ventos me conduzirão?
Em que areias finas irei aportar?
De que me adianta pisar o chão
se não tenho ninguém a me esperar?

O que fazer com tanto
não sei o quê de angústia
com tantos incontáveis desamores
com abundantes amores em vão
que passam sem a intenção de retornar?

Onde está o que nunca tive?
- será que existe?
O que faz de mim humano
se dos amores idos
só tenho boas lembranças
nunca saudades reais?

O que faz de mim humano
se penso que não sei amar?
Onde está o que a todo mundo é legado
e a mim, só Ninguém consegue decifrar?


20.set.2011

Desejos



Perdoa esse meu jeito torto de puxar assunto,
essa forma esquisita de desejo.
Se tenho passos vacilantes quando estamos juntos
é porque é a insegurança que move meus ensejos.

Se estás longe te quero perto
mas se estás próxima não sei o que fazer
essa inquietude em passos incertos
é a minha maneira de sofrer.

Com as mãos afagas,
com os olhos faz-se dizer
mas com poucas palavras apagas
o que me faz rejuvenescer.

És pr’a mim algo para além de um carinho
muito mais que uma eterna lembrança.
És uma flor que, mesmo com espinhos,
me faz adulto enquanto criança...

21.out.2010

sábado, 3 de setembro de 2011

As Psicologias



Onde procuro,
encontro-te.
Onde não procuro,
encontro-te.
Quanto tento agarrar-te,
tu me escapas...

11.nov.2008

Psiquiatria



Escaninho e minúncia da loucura, errância e escrutínio da desrazão,
rede de conexões, produto e proliferação de psicopatologias,
morte simbólica do homem normal, nascedouro da normalização.
Eis, sem complicados algarismos, o funcionamento da psiquiatria.

Instituição estabelecedora de alucinações, demências e delírios,
pérfida ilusão, falácia das quimeras, fabulação dos desvarios.
Algoz das subversões, das singularidades e dos imprevistos,
traidora da diferença, captura da não-referência e dos não-ditos.

O que criaste foi um mundo o qual pudesse te servir:
transformaste o outrora 'louco' em 'doente mental',
decompuseste a força humana em cooptações à normalidade.

Fizeste do homem mero fantoche de uma vida sem porvir.
Classificaste os viveres, ampliando o espaço do hospital
Regulaste os sujeitos dentro de processos sem singularidade...

25.maio.2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Versos a Nietzsche



Foste tu quem inauguraste o sujeito
Por seres póstumo, foste dele o precursor
Soberbo, não esperaste pelo Ser perfeito
Friedrich Nietzsche, tu superaste o Criador.

Em versos, sensocomunianamente falando,
Foste no planeta Terra o errante teólogo.
O inventor que, constantemente se reinventando,
Em vida, superaste o próprio título de filólogo.

Foste o filho bastardo de Dionísio
– o Baco da Roma Antiga! –
Um espírito livre, apesar de sofredor

Padeceste tal como um moderno Narciso
– que tem a própria imagem como inimiga! –
tiveste a vida castigada por um não-amor.


21.out.2010

Os não-ditos


O que é bom na vida reside no não-verbal,
no ainda não-verbalizado,
no que, por razões as mais diversas,
ainda configura-se como não-dito.
Verbalizar as coisas é perdê-las!

Pra que dizer ou pensar
sobre o que ainda é porvir?
Pra que serve esta violência
conta o não-dito, o não vivido,
o que ainda podemos fazer?

Dizer as coisas é territorializá-las
mascará-las sob a égide do racionalismo.
Em suma, verbalizar o não-verbal
é medo de viver o desconhecido.
O preço: a covardia de pensar que podia tê-lo vivido!

24.out.2010